Apontamentos

01/08/2014
Teatro de Sombras e Boneca de Pano

A Cia Cubo Cênico trabalha com a Narrativa da cena, nos Trabalhos-em-Processo a pesquisa é o aprofundamento do ator na poesia, no cotidiano e no não-cotidiano. As experiências realizadas e os estudos dão ênfase nas imagens e na imagética que a Cia deseja apresentar. Após o contato com a Cia Quase Cinema, especializada em Teatro de Sombras Contemporânea e a apresentação da Dramaturgia foi unanime a desejo de realizar o projeto, que saiu do papel para o papelão, o pano, as sombras e o palco.

A dramaturgia sofreu a influencia do poeta Erik Fernandes que abrilhantou o texto com poesias e um aprofundamento nas relações entre Karina e Lili, bem como de Lili com outros bonecos. Suas poesias tornaram-se musicas com as melodias criadas pelo ator e musico Fabio DaMusi (Fabio Camargo).

Com o texto em mão o processo de estudo caminhou para o Teatro de Sombras e as Tradições brasileiras com relação às Bonecas de Pano, a Cia detectou que a Tradição de ganhar Bonecas de Pano é milenar. Cada povo têm suas funções e suas crenças com relação às bonecas. No Brasil, as bonecas de pano tem como caráter serem produzidas pelas mulheres anciãs. No período da colonização havia as bonecas de porcelana, porem eram caras, porque vinham da Europa, e muito sensíveis, ou seja, não passavam da porta do quarto da menina, onde ficava em exposição. No cotidiano, as meninas ganhavam as bonecas de pano, produzidas a partir de retalhos que sobravam após a produção das roupas. As classes mais baixas ou as meninas escravas faziam suas bonecas de folhas ou madeira, as bonecas mais próximas da de pano eram feitas com sacos de estopa.

O Teatro de Sombras também é uma técnica milenar. Historiadores consideram sua origem a partir do humano dominar o fogo, e todas as experiências eram contadas ao redor do fogo e as sombras colaboravam com a imaginação. As sombras, normalmente, reservam medo, porem neste caso, elas contribuem na construção do universo lúdico do espetáculo que prende o expectador do início ao fim.
Thais Lopes.

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16/10/2010

diferentes metáforas para solidão


Campainha do apartamento
Música do caminhão de gás
Olho mágico
Som do chuveiro
Som de mensagem no MSN
Telefone tocando
Webcan


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12/10/2010

Papo-cabeça numa sexta à tarde no Centro de Artes Cênicas Walmor Chagas



WP - O que tudo isso quer dizer, de fato?

Sra. 501 - De forma geral, transpor os contos da Sra. M. para o palco. Falar da solidão, como reflexão sobre nosso cotidiano. A influência cotidiana da TV. Já não se conversa mais como antes. Amores pela metade, relações efêmeras, paixões (ainda mais) fugazes. Dentro das engrenagens da rotina, as pessoas se perdem. O medo do outro, medo que o outro descubra quem realmente você é, o que você sente.
Muito do teatro que se faz hoje em dia é chato, sem sentido e não dialoga com quem assiste, não dialoga com seu tempo. E dos que estão em cena, poucos realmente sabem sobre o que estão falando.
Palavras e imagens dissociadas entre si e descoladas da realidade. Raramente caminham juntas. A partitura corporal compõem-se de ações externas, que despertam sensações internas.

Referência cinematográfica: Air Doll.



Titulo Original: Kûki ningyô
Baseado em livro de Yoshiie Goda
Direção e Roteiro: Hirokazu Koreeda
Trilha Sonora: World's End Girlfriend
País: Japão
Ano: 2009

WP - O que os olhos não vêem mas está registrado nessas diversas camadas?

Sr. Coágulo - A busca por uma eficiência da linguagem. Expressar-se de uma forma melhor. Busca por outras formas de narrativas. Narrativa plural, em várias camadas – palavra, corpo, imagem, sensação. Busca pela síntese. Menos é mais. A Sra. M. – nesse sentido – trabalha a síntese e a eficiência da linguagem. O exercício de dizer muito, com poucas palavras, remete à força do hai-kai.
O processo remete ao conceito de intertextualidade (verbo / ação / imagem), a um cinema fragmentado (no melhor sentido da palavra).

Fotografia hoje: o que determina não é mais o olhar e sim o pulso (auto-fotografias que proliferam pelas redes sociais). É necessário ter autonomia sobre imagens, som, cena, como numa busca dialética.

Cinestesia e Narrativa – criar uma espacialidade e um corpo para contar uma boa história.



Para leitura –  Introdução ao cinema intertextual de Peter Greenaway
O livro de Wilton Garcia analisa o discurso fílmico de Peter Greenaway, evidenciando a complexidade de sua trama intertextual de deslocamentos e condensações. As imagens formulam um corpo de adjetivos pluridimensionados: são figuras de linguagem que num jogo poético ultrapassam a condição de metáforas e metonímias ao explodirem entre hipérboles, sinestesias, sinédoques e paráfrases. O trabalho estético de Greenaway integra-se numa linha de sensibilidade artístico-conteporânea. A profusão de paródias, a forma labiríntica de compor a narrativa cinematográfica e o envolvimento do espectador se diversificam ao longo de cada enredo desenvolvido pelo diretor. Esse atento estudo de Wilson Garcia capta a utilização desses recursos e mostra como tudo na obra de Greenaway é montado para parecer devaneio.


Introdução ao cinema intertextual de Peter Greenaway
Wilton Garcia
Formato 11,5x20cm, 107 páginas
ISBN: 85-7419-105-1



Referências dialéticas: “Baraka”, documentário experimental de 1992 dirigido por Ron Fricke e “A Noite Americana”, produção de 1973, dirigido por François Truffaut.


Título Original: Baraka
Direção: Ron Frickle
Roteiro: Ron Fricke, Mark Magidson
País: Estados Unidos
Ano: 1992


Título Original: La nuit américaine
Direção: François Truffaut
País: Itália / França
Ano: 1973


 
Outra referência para o processo: filmes de Domingos de Oliveira. Fala do ser humano comum, em situações comuns do cotidiano. O cinema argentino atual também.

Sr. Coágulo - Trabalhar o tema da solidão pela sua efemeridade.

Sra. 501 - Os contos da Sra. M., partem do individual para o universal. Por isso, são potentes.

Sr. Coágulo - Hoje em dia, estamos habituados a pensar em rede e não linearmente (causa-efeito).

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11/10/2010

# scrapbook_4


Nesta última semana, estive na cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, participando do 7º Seminário Nacional de Formas Animadas, promovido pelas universidades públicas daquele estado e lá muito do que foi debatido, transpassa múltiplos conceitos relacionados à performance:

- A dramaturgia do espaço como processo de criação;
- Corpo/Objeto: o "mascaramento" na cena contemporânea brasileira;
- A marionete como metáfora do corpo dançante;
- Instalação corpórea;
- Site-specific;
- O não-lugar na criação da cena contemporânea.

Para cada um dos ítens acima, há várias subdivisões e todas se entrecruzam, formando a teia complexa daquilo que denominamos "performance".
Depois dessa experiência sinto e sei que essa obra em progresso está mais ligada às artes plásticas do que ao teatro. Embora ambas se complementem e se completem. Mas isso acaba por indicar um caminho, um "recorte" em meio a quantidade e diversidade de material disponível para a pesquisa.
Ainda há muito trabalho pela frente.

WP


Estudos de caso apresentados durante o seminário:
















cases publicados originalmente no blog http://teatrodeanimacao.wordpress.com/page/4/

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23/09/2010

kantor 




"O espaço da vida é o espaço da arte; ambos confundem-se, compenetram-se e dividem um destino comum; a 'quarta parede' não tem sentido porque a necessidade da obra teatral reside nela própria; o espetáculo acontece não para alguém, mas na presença de alguém; atores não podem fingir uma personagem ou representar um texto; o drama e a vida coincidem na criação de um espetáculo-obra de arte."

(Tadeusz Kantor em citação de Maurício Paroni de Castro no livro "Aqui Ninguém é Inocente")




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10/09/2010

# scrapbook_3

Um pouco de Metodologia

O processo de criação e investigação cênica para o work in process Nossa Vida Vale + que um Filme em P&B, fornece aos atores-criadores ferramentas para transpor contos curtos, mat´´erias de jornal e depoimentos colhidos pelos atores in loco, para a cena. Esse processo de trabalho se inicia com o ato de contar uma história e seu movimento narrativo por meio de uma corporeidade trabalhada a partir de treinamento específico e criação de partituras físicas.
A estrutura narrativa e dramática dos contos é transposta para a partitura física, mesmo sem o uso do recurso oral (inicialmente) e as histórias são contadas a partir de dois pontos de vista iniciais: a primeira e terceira pessoa, evoluindo para outros níveis de narração.

1. Leitura atenta do conto escolhido;
2. Primeiras anotações acerca do conto: objetos, sensações, cores, movimentos, etc.
3. Divisão do conto em partes;
4. Criação de partituras físicas (em nº de movimentos exatos). Para cada parte (subdivisão) do conto, um conjunto de determinada quantidade de movimentos;
5. Junção da partitura com uma determinada música. Movimento e música se mesclam formando um ritmo para a micro-cena;
6. Sequencialização das micro-cenas, formando uma cena completa, com base no conto escolhido;
7. Trabalho das sensações, a partir das primeiras descobertas com a leitura do conto, e aplicação de estética expressionista para amplificação dos movimentos da cena;
8. Relação do ator com objetos, figurinos e luz (a partir das anotações iniciais), complementando as partituras trabalhadas;
9. Finalmente, se introduz o texto do conto escolhido (ou partes dele), como narrativa complementar à cena desenvolvida pelo ator-criador.


WP.

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01/09/2010

Se a gente entender um ensaio como um espetáculo, será uma performance.
O "ensaio" não significa que há concretização no "produto" espetáculo.


(Performance como Linguagem - Renato Cohen)


renato cohen e a criação cênica em processo

Luiz Carlos Garrocho · Belo Horizonte, MG
5/5/2007


performance para "A Distância Entre 2 Caminhos" (2007)



Há um livro que sempre indico para as pessoas que desejam conectar-se com as pesquisas cênicas contemporâneas, tais como a de um teatro contaminado pelas outras mídias (dança, música, artes-plásticas), tomado pelo hibridismo e que foge às categorizações: Working in progress na cena conteporânea, de Renato Cohen.

O autor, que encantou-se em 2003, é um pensador-criador do teatro experimental, que ele denominava nos últimos escritos de
pós-teatro: um plano de criação intermídias, processual e instável. Cohen traçou caminhos em zig-zag, desnorteando referências por demais fixas, avizinhando-se de zonas fronteiriças, imprimindo um teatro gestual, de forte impacto visual e sonoro.

Trouxe para a cena o mito e o ritual, não de modo ilustrativo, mas sim ao modo de uma produção desejante, de um agora carregado de passado e futuro.

Cohem aponta para um procedimento de criação cênica que não se faz mais como obra acabada, mas como obra em processo. Isso não quer dizer que ela seja mal-acabada, mas sim que, em ressonância com o espírito de época, sua incompletude passa a ser a sua virtude. A obra em processo rompe com séculos de tradição artística ocidental, instaurando uma arte corroída pelo seu próprio discurso.
Paul Virilio mostra, a respeito da contemporaneidade, que a arte torna-se acidente. Porém, acrescenta, as obras de arte caminham, em sua maioria, sem saber desse fato. Não se trata de uma visão catastrófica ou apocalíptica. Virilio mostra que tudo já é acidente – só falta tomar conhecimento disso. E tal fato deveria ser visto como uma positividade. Nesse sentido, a obra processual de Renato Cohen incorpora as vicissitudes do trajeto, a incompletude dos significados, o atravessamento de multiplicidades, produzindo uma cena outra, na qual o acidente configura uma realidade existencial.

A pesquisadora de artes cênicas,
Sílvia Fernandes, aponta alguns dos procedimentos utilizados por Cohen: a) narrativas sobrepostas; b) noção de obra progressiva a partir do corso-ricorso, tomado de James Joyce; c) variáveis abertas num fluxo livre de associações, evitando assim o fechamento do sistema, como ocorreria, por exemplo, com o texto dramático; e d) leitmotive condutores. Tais procedimentos substituem o desenvolvimento dramático, procedimento clássico do teatro. Cohen cita, constantemente, a arte minimalista, com suas fases e defasagens, com o uso de repetição que varia na sua diferença e que instaura planos meditativos.

Para os atores e performers, Cohen faz uso de diversos instrumentos, desde aqueles que foram transmitidos no âmbito da atividade artística, quanto daqueles que vêem do ritual, como o caso do xamanismo. A performance, para Cohem, é tanto um campo sombrio e sinistro, carregado de ironia, quanto uma viagem de iniciação – daí suas constantes referências na obra do artista e performer
Joseph Beuys. Uma iniciação que não se dá em moldes pré-estabelecidos, mas a partir das próprias mitologias pessoais dos performers no encontro com as forças que atravessam a sensibilidade contemporânea.

Renato Cohen fez vários espetáculos que fundiram na cena tais princípios e procedimentos: entre eles, a sua estréia nos anos 80 com Magrite, espelho vivo (1986), Sturm and Drang/Tempestade e Ímpeto; merecendo destaques, ainda, sua parceria com
Peter Pál Pelbart e Sérgio Penna, junto com usuários do sistema de saúde mental, com Ueinzz, Viagem à Babel (1997)e posteriormente, Gothan SP (2001).

Tive a oportunidade de assistir a uma conferência e oficina de Renato Cohen, no Centro de Cultura de Belo Horizonte, em 2001, no projeto Seminário. Perguntei, então, a Renato, como ele definia a dramaturgia (que não se limita ao teatro dramático, incluindo o chamado
teatro pós-dramático), ele responde na velocidade de um raio: é hipertexto, você entra num lugar e já cai em outro. Porém, posso entender que ele não dizia simplesmente de uma alternância de paisagens, mas sim de uma coexistência não linear e não hierárquica das diversas imagens, que não tem a função de se explicar ou de se traduzir mutuamente.

O seu livro de estréia nos anos 80 (reeditado em 2004), Performance como linguagem, trouxe o campo da
performance art, abrindo perspectivas sobre estética contemporânea e criação cênica. A sua pesquisa mais recente, interrompida pela sua morte, referia-se à Performance e tecnologia na era da técnico-cultura. Working in progress na cena contemporânea, o seu último livro, é um caixa de ressonâncias e conexões com os pensamentos criativos e com os procedimentos das vanguardas históricas, perpassando informações preciosas e dicas muito interessantes.

Aqueles que se interessam pela criação intermídias e processual, bem como desejam adentrar nos caminhos do pós-teatro, encontrarão no livro de Renato Cohen, Working in progress na cena contemporânea, fontes de pesquisa e inspiração.

Referências:COHEN, Renato. Working in progress na cena contemporânea. São Paulo: Perspectiva, 2004
_____________ Performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2004.
VIRILIO, Paul and LOTRINGER, Sylvère. The accident of art. MIT Press: Cambridge, Mass and London, England, 2005.

Texto reproduzido a partir do site http://www.overmundo.com.br/overblog/renato-cohen-e-a-criacao-cenica-em-processo
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01/09/2010

fuganti





Apontamentos sobre palestra de Fuganti (2009)

A Grande problemática da arte é a relação estética x moral.
Não há vida sem dor.
O problema da vida e encontrar uma expressividade com o maior horizonte possível.
A arte não é moralista e a vida não é dialética.
Vida é acontecimento. Acontecimento é produção.
A arte cria sensações. As sensações deslocam nossos desejos e pontos de percepção. Ao nos deslocarmos, estamos sendo contraventores.
Atrás de uma forma, se esconde uma força (Artaud).
O pensamento é uma máquina de fazer realidade.

Mais informações: http://www.luizfuganti.com.br/  e  http://escolanomade.org/

WP

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24/08/2010

# scrapbook_2

Roteiro Original
Escolha de contos curtos  -  criação de storyboard  -  possibilidades de narrativa e construção de imagens

Substrato Poético
O Ser e o Tempo - Martin Heidegger e alguma coisa de Beckett

Processo Criativo
Expressionismo  -  partitura corporal  -  relação com músicas, objetos, figurino e luz

Direção de Fotografia
Enquadramentos / posicionamento de câmera (a partir do ponto-de-vista do espectador)  -  linguagem estética dos quadrinhos (incluindo suas formas narrativas)

Direção de Arte
Interelação entre luz e cor  -  primeira metade, p&b e segunda metade em cores  -  composição entre figurinos e objetos

Making of
Registro do processo de construção das cenas em forma de vídeoclipe

Edição Final
Cenas editadas, junto com trilha sonora original e direção de arte

WP.

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20/08/2010

# scrapbook_1


Foto de André Santiago. Terminal Rodoviário Municipal de SJCampos


Vivemos numa cidade dormitório.
A incomunicabilidade na obra de Antonionni e na cidade onde vivo. Paradigmas de uma sociedade tecnológica e digital.
O teatro é um campo viciado. De experiências, vivências, práticas. de quem faz e de quem assiste. Estabelecer, portanto, o ritual.
Buscar na linguagem dos quadrinhos (principalmente Eisner e Crumb) outras formas narrativas de se contar histórias.
Buscar o hiato entre as palavras. O silêncio entre as canções (relembrando o vinil, é claro).
Qual o som que o grafite faz ao percorre o papel?

PS.: Escrever cartas numa época que ninguém mais o faz.

O Papel do Poema (com Reginaldo e Zenilda).

Becket é o mestre dos vazios ( da linguagem, da existência).
Talvez / quem sabe / pode ser: incidência constante dessas expressões na obra de Becket, segundo Paulo Leminski.

René Magritte (http://www.magritte.com/) - Gosto demais daquelas figuras sem rosto.

Sobre qual realidade estamos falando mesmo?

WP, a mil por hora