Work in Process

Vivemos em não-lugares. Aglomerados de pessoas estranhas, dos mais diversos cantos. Que chegam e saem por terminais rodoviários e autoestradas, para outros não-lugares. Paradigmas de uma sociedade tecnológica e digital. Pelo buraco da fechadura,uma rotina. Curiosos, espionamos fragmentos e imaginamos o "recheio" desse cotidiano solitário. Dessa forma, se desenvolve o processo de criação e investigação cênica para a encenação-em-processo “Nossa Vida Vale + que um Filme em P&B”.

>> DESCRIÇÃO

O processo de criação e investigação para a encenação-em-processo “Nossa Vida Vale + que um Filme em P&B”, fornece aos atores-criadores ferramentas para transpor contos curtos, matérias de jornal e depoimentos - recolhidos em pesquisas de campo - para a cena. Esse processo de trabalho se inicia com o ato de contar uma história e seu movimento narrativo por meio de uma corporeidade trabalhada a partir de treinamento específico e criação de partituras físicas.

Metodologia de Trabalho

01. Observação prática em locais públicos de São José dos Campos: Mercado Municipal, Rua 7 de Setembro e Praça Afonso Penna e improviso em sala de ensaio a partir de material visual e sonoro recolhido in loco;
02. Leitura e seleção de contos curtos, matérias de jornal e depoimentos;
03. Primeiras anotações acerca do material recolhido: palavras, objetos, sensações, cores, indicação de ação e movimento;
04. Divisão dos textos em partes distintas (subdivisões);
05. Criação de partituras físicas (em nº de movimentos pré-definidos). Para cada parte (subdivisão) do texto, um conjunto de movimentos em número pré-determinado;
06. Junção da partitura com uma determinada música. Movimento e música se mesclam formando um ritmo para a micro-cena;
07. Sequencialização das micro-cenas, formando uma cena completa, com base no texto escolhido;
08. Trabalho das sensações, a partir das primeiras descobertas com a leitura dos textos e sua amplificação;
09. Relação do ator-criador com projeção de vídeos, manipulação de objetos, figurinos e luz (sempre a partir de anotações iniciais), complementando as partituras trabalhadas;
10. Finalmente, se introduz o texto escolhido (ou partes dele), como narrativa complementar à cena desenvolvida pelo ator-criador;
11. Relação da cena com o espaço escolhido para a encenação-em-processo, numa variação de site-specific;
12. Apresentação do processo, criando relação ritualística com o público.


>> OBJETIVOS

Desenvolver pesquisa e investigação cênica a partir de contos curtos, matérias de jornal e depoimentos - recolhidos em pesquisa de campo, visando um teatro ritualizado (o ator-performer comunga com a platéia e vice-versa) questionador e provocador, sem perder a poética. Ao mesmo tempo, estabelecer conexões com outras linguagens artísticas, através do uso da tecnologia interativa aplicada à cena,opondo-se assim, à situações cômodas para o ator-criador. Contar histórias do cotidiano, rompendo com a passividade do publico, que passará a refletir sobre seu próprio cotidiano.
O processo de criação e investigação para a encenação-em-processo “Nossa Vida Vale + que um Filme em P&B”, procura trazer para mais próximo do público, as etapas da criação artística (por meio de apresentações de processo de trabalho), as diversas linguagens envolvidas (por meio de palestras e oficinas) e as histórias cotidianas de pessoas comuns.
Todas as atividades desenvolvidas durante o processo serão gratuitas e abertas ao público em geral, e documentadas para registro da Cia. Cubo e para consulta pública.
O espetáculo resultante deste processo circulará por espaços alternativos com a proposta de refletir sobre o lugar em que cada um vive. Ou o não-lugar.
A estrutura narrativa e dramática material recolhido é transposta para a partitura física, mesmo sem o uso do recurso oral (inicialmente) e as histórias são contadas a partir de dois pontos de vista iniciais: a primeira e terceira pessoa, evoluindo para outros níveis de narração.
A idéia desse processo de trabalho é que ele seja ritualizado (o ator-performer comunga com a platéia e vice-versa), com a cena sendo desenvolvida bem próxima do espectador e - de preferência - sem nenhum controle externo (projeção de vídeo, luz e som sendo manipulados de dentro da cena, pelos próprios atores-performers). E, como evolução da pesquisa já iniciada pela Cia. Cubo, esse projeto avança ainda mais na construção de imagens (por meio de partituras corporais e projeções de vídeo em linguagem dialética) do que numa dramaturgia textocentrista.


Objetivos Específicos

- Desenvolver pesquisa transposição de contos curtos, matérias de jornal e depoimentos para a cena;
- Desenvolver pesquisa sobre performance, dança-teatro, narrativa e teatro de formas animadas;
- Desenvolver pesquisa sobre antropologia da imagem;
- Desenvolver pesquisa teórica sobre o livro “O bem e o mal” de Nietsche;
- Realizar treinamento físico;
- Transformar o resultado das pesquisas e as cenas trabalhadas em texto dramatúrgico colaborativo;
- Realizar 04 palestras sobre a pesquisa e o processo de trabalho, durante a fase de experimentação e ensaios:
          1.Processo de criação do livro “A morada do ser” – Marina Colasanti;
          2.Corpo/objeto: o “mascaramento” da cena contemporânea brasileira - Ipojucan Pereira;
          3.Formas narrativas – Luis Alberto de Abreu;
          4.Desejo e potência – Luiz Fuganti;
- Realizar 02 oficinas e 2 workshops complementares à pesquisa e o processo de trabalho, durante a fase de experimentação e ensaios:
          1.Performance – Lúcio Agra;
          2.Técnicas de teatro de sombras – Cia. Quase Cinema (Ronaldo Robles);
          3.Manipulação e construção de bonecos – Cia. Capadócia (Wilson Vasconcelos e João Donda);
          4.Teatro Físico - Gonzaga Pedrosa
- Realizar 03 ensaios abertos;
- Realizar 01 workshop sobre processo de criação das cenas, com direção e elenco;
- Realizar 1 seminário sobre po livro "O Ser e o Tempo", de Heidegger e 1 seminário sobre obra de Renato Cohen (elenco);
- Realizar 10 apresentações do resultado final, em forma de espetáculo, com debates ao final.

Propostas de Trabalho

PROPOSTA DE DIREÇÃO
WALLACE PUOSSO 
A partir de material sonoro, escrito e fotografado dos elementos pertinentes à pesquisa proposta, coletados pelos atores e do canovaccio da dramaturgia, serão criadas cenas. A partir desses materiais, a direção pretende provocar a criação das personagens e das cenas com o elenco, aproveitando ao máximo, a linguagem da narrativa, verbal e audiovisual. Com o roteiro da pesquisa definido, o próximo passo é selecionar textos, contos, e depoimentos com potencial de narrativa para trabalho em sala de ensaio. Esse trabalho é proposto em forma de improvisos, jogos e debates entre elenco e direção e avaliados segundo os apontamentos do roteiro pré-estabelecido e comporão o material de base para a criação do texto teatral final.
O espetáculo que se pretende chegar como resultado final será fruto de um processo colaborativo.


PROPOSTA DE DRAMATURGIA

 THAIS LOPES

Estabelecer a dramaturgia, a partir de material coletado em sala de ensaio, que por sua vez, se desenvolverá com base nas sensações geradas por contos curtos e matérias de jornal, também a partir de depoimentos pessoais e pesquisas de campo dos atores-criadores. O trabalho se propõe a investigar o diálogo possível entre o particular e o coletivo, com temas transversais como cidade-dormitório e transitoriedade.

PROPOSTA DE CENÁRIO
Como a gênese da pesquisa que norteia “Nossa Vida Vale + que um Filme em P&B”, é a solidão do indivíduo contemporâneo, cosmopolita, trancafiado em celas-apartamentos, o cenário deve recriar espaços cênicos distintos para amplificar sonhos, angústias e rotas desses indivíduos.
Construir espaços cênicos em que atuadores e platéia vivenciem formas ritualísticas de representação, estabelecendo relações cênicas com sensações intuitivamente provocadas para a reflexão. Numa concepção cenográfica labiríntica, os espectadores deverão ser conduzidos por ambientes distintos, como parte integrante do espetáculo, sugerindo sensações por meio de cores, formas, cheiros e imagens táteis.

PROPOSTA DE ILUMINAÇÃO
A Iluminação pretende, com seu movimento sutil e suave, realizado de dentro da cena pelos próprios atores, fazer surgir aos olhos e espírito do espectador, um universo poético, um mundo visto de diversos ângulos. Através da simplicidade, ou seja, com uma iluminação sem efeitos pirotécnicos e sem movimentos de luz “dançantes”, a proposta é criar um cenário de tempo e espaço diferentes para cada cena, direcionando o olhar e os sentidos do espectador para a compreensão e envolvimento total com o espaço criado e o texto.

PROPOSTA DE AMBIENTAÇÃO SONORA
Considerar o universo sonoro e musical como eixo de linguagem próprio e apoiador no sentido do enriquecimento expressivo e significante na construção e ambientação das cenas; Resgatar e analisar as paisagens sonoras típicas do ambiente sensitivo de que tratam os contos e depoimentos recolhidos pelos atores, suas particularidades na relação figura/fundo e as características de suas fontes geradoras no que diz respeito à diversidade de timbres, materiais, densidades, alturas, intensidades e durações;
A partir destas pesquisas e análises construir o cenário sonoro e musical pertinente ao texto e adequado aos recursos humanos e materiais disponíveis;
Realizar com os atores dinâmicas específicas para o aprimoramento de suas competências expressivas na linguagem sonora e musical.


>> JUSTIFICATIVA

Na cidade-dormitório onde vivemos e (co) existimos, habitamos diversos não-lugares. Criamos rotinas, sonhos e amores não-realizados, Somos - muitas vezes - viajantes, passageiros de uma viagem vertical ambientada numa cidade utópica. Em cada porta, janela ou fenda há um dilema, um problema, uma história, uma vida. Que se organizam através da incomunicabilidade, das palavras sem sentimento, dos corpos sem desejo. Cinema computadorizado, personagens criados com poderes irreais, jogos virtuais de relações, desejos platônicos.
A pesquisa será baseada em filmes, livros, curtas metragens, músicas, documentários, obras de arte. Os filmes falam sobre o homem contemporâneo, solitário pela condição imposta pelo modelo social que pertence e foge criando seu mundo dentro de sua casa, apto ou quarto. O pensamento por trás do discurso (não-verbal) também está presente nas obras de Martin Heidegger, Deleuse, Luiz Fuganti e Nietsche. As músicas experimentais/eletrônicas, tem a proposta de se mesclarem a instrumentos tocados ao vivo e ambientação sonora (ruidagem). Documentários sobre filósofos, com profissionais que debatem e discutem o mundo atual com referencia as transformações da moral, ética, estética e postura de relações sociais, também serão utilizados como base de pesquisa pelos atores-criadores. E inspirações surrealistas de René Magritte, André Breton, Giorgio de Chirico entre outros ajudarão a compor uma estética que dialogue com esse ser contemporâneo, embebido em tecnologia e solidão.
Ao transpor contos curtos, matérias de jornal e depoimentos, em processo de dramaturgia colaborativa, para o palco, temos a oportunidade de utilizar o tema "solidão", para refletir sobre o nosso cotidiano: a influência da TV, a falta de diálogo, amores pela metade, relações efêmeras, paixões fugazes. Dentro das engrenagens da rotina, as pessoas se perdem. O medo do outro, medo que o outro descubra quem você realmente é e/ou o que você sente.
Muito do teatro que se faz hoje em dia é - de certa forma - formatado em fórmulas de fácil assimilação, sem sentido e não dialoga com quem assiste, não dialoga com seu tempo. Por isso a necessidade da desconstrução do teatro burguês e uma realocação do processo criativo teatral, parte por parte. A imagem vale mais do que muitas palavras. Antropologia da imagem.
Nossa motivação principal neste projeto é a busca pela eficiência da linguagem. Expressar-se de forma melhor. Buscar outras formas de narrativa. Narrativa plural, em várias camadas – imagem, sensação, palavra, corpo. Busca pela síntese. Menos é mais. Durante esse processo, cada ator-criador buscará, a partir de material coletado e reconstruído, o leitmotive que permeará toda a dramaturgia colaborativa numa multitrama em torno do tema solidão. Dessa forma, o processo insere a intertextualidade (imagem / ação / verbo) como paradigma e provocação.

Conceitos

Leitmotive (o tema condutor, criando um vínculo narrativo entre as tramas)
Da wikipédia: (do alemão, motivo condutor ou motivo de ligação) é termo composto, expressão idiomática naquele originário vernáculo, para significar genericamente qualquer causa lógica conexiva entre dois ou mais entes quaisquer.
Na dramaturgia: figura de repetição, no decurso de uma obra dramática, de determinado tema, a envolver significação especial.
Nos primeiros 15 minutos, apresenta-se as personagens, as situações, estabelecem-se os signos.


Multiplot
Espécie de mosaico com diversos personagens cujas histórias tem relação umas com as outras, o que pode-se chamar também de multitrama. Uma trama longa passa a ser uma multitrama constituída por (sub) tramas elementares.


PRAZO DE EXECUÇÃO
Início: abril de 2011
Término: março de 2012


ATIVIDADES ABERTAS AO PÚBLICO DURANTE O PROCESSO DE TRABALHO

PALESTRA SOBRE CRIAÇÃO DO LIVRO “A MORADA DO SER”

PALESTRA SOBRE CORPO/OBJETO: O “MASCARAMENTO” NA CENA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
IPOJUCAN PEREIRA

PALESTRA SOBRE DESEJO E POTÊNCIA
LUIZ FUGANTI

PALESTRA SOBRE FORMAS NARRATIVAS
LUIS ALBERTO DE ABREU

OFICINA DE CONSTRUÇÃO E MANIPULAÇÃO DE BONECOS
CIA CAPADÓCIA (WILSON VASCONCELOS E JOÃO DONDA)

OFICINA DE PERFORMANCE

WORKSHOP DE TÉCNICAS DE TEATRO DE SOMBRAS
CIA QUASE CINEMA – RONALDO ROBLES

WORKSHOP DE TEATRO FÍSICO
GONZAGA PEDROSA

SEMINÁRIO SOBRE O “SER E O TEMPO” DE HEIDEGGER
ELENCO

SEMINÁRIO SOBRE OBRA DE RENATO COHEN
ELENCO

3 ENSAIOS ABERTOS
ELENCO E DIREÇÃO

WORKSHOP SOBRE O PROCESSO DE CRIAÇÃO DAS CENAS
ELENCO E DIREÇÃO

EXIBIÇÃO DE FILMES COMO PROCESSO DE CRIAÇÃO DO ATOR
ELENCO E DIREÇÃO

OBS.: Todas as atividades acima são gratuitas.



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